Das lágrimas ao topo da América: a década inesquecível do Atlético-MG
Galo “renasce das cinzas” em 10 anos: cai para a Série B pela 1ª vez, conquista títulos nacionais e internacionais e inflama a torcida que nunca deixou de acreditar

2005: ano para ser esquecido. 2015: ano que encerra uma década inesquecível para o torcedor do Atlético-MG. Da queda para a Segunda Divisão, ando pela conquista de títulos importantes e a disputa do Mundial de Clubes, aram-se 10 anos. Tempo que mudou, e muito, o panorama do clube. Serviu para reacender o orgulho de torcer pelo Galo – que nunca morreu, é verdade, mas precisava de títulos importantes e mais momentos alegres do que tristes para voltar a ser bradado a plenos pulmões.
E eles vieram. Nesta última década, além de cinco conquistas estaduais (2007, 2010, 2012, 2013 e 2015), o Atlético-MG levantou a taça da Série B (2006), Libertadores (2013), da Recopa e da Copa do Brasil (ambas em 2014). Por três vezes disputou, no topo, o Brasileiro (2009, 2012 e 2015). E, cada vez mais, enche de esperança a torcida, por hora sofrida, hoje orgulhosa. Orgulhosa de ter podido comemorar gols do craqueRonaldinho Gaúcho e defesas do “São Victor”, de criar o “Eu acredito” e gritar “É campeão!” por nove vezes.
O GloboEsporte.com aproveita a data que marca os 10 anos da queda do Atlético-MG para a Série B – completados neste 27 de novembro – para relembrar a década que começou com o pior momento da história do clube e que teve, no meio do caminho, o renascimento do time da torcida que nunca, nunca mesmo, deixou de acreditar.
2005 – O ANO DA QUEDA
O fatídico 2005 começou com a eliminação no Campeonato Mineiro para o rival Cruzeiro na semifinal. Procópio Cardoso era o treinador. Depois dele vieram outros três naquele ano: Marco Aurélio, Tite e Lori Sandri, este último marcado como o técnico da queda inédita. O elenco tinha jogadores então badalados como Rodrigo Fabri, Marques, Euller, Fábio Júnior, Amaral, entre outros. Veteranos de peso contratados na gestão do presidente Ricardo Guimarães para tentar apagar a campanha ruim no Brasileiro de 2004 – terminou no 19º lugar entre 24 participantes. Tentativa que não deu certo. Na reta final da temporada, com o Galo praticamente rebaixado, Lori Sandri, falecido este ano, promoveu a entrada de vários jogadores jovens no time: Lima, Thiago Feltri, Zé Antônio e Rafael Miranda. Personagens do momento mais triste da história do Galo, que foram aplaudidos pela torcida (veja no vídeo acima), após o empate com o Vasco que decretou a queda à Série B – demonstração de amor e confiança que mais tarde seria recompensada.
2006 – DE VOLTA À SÉRIE A
A temporada começou com seis novidades no elenco, apresentados no fim do ano anterior: os atacantes Thiago Cavalcanti e Jales, os meias Eduardo e Rafael Gaúcho, o lateral-esquerdo Vicente e o volante Éverton. Lembra deles? Nenhum foi até o fim de 2006. No ano em que disputaria a Segunda Divisão pela primeira vez em quase 100 anos desde a fundação, o Atlético-MG começou 2006 de maneira muito ruim: nem na final do Campeonato Mineiro chegou. O clube contratou Marinho e Danilinho, que não tiveram muito tempo para ajudar na Copa do Brasil, e o Galo foi eliminado nas quartas de final pelo Flamengo. O time começou a Série B com uma campanha abaixo do esperado – chegou a ficar na 14ª posição. Lori Sandri caiu, Marcelo Oliveira foi interino em um jogo, e Levir Culpi assumiu. O goleiro Bruno foi vendido para o Corinthians, e Diego Alves assumiu a camisa 1. O Atlético se recuperou, fez um ótimo segundo turno e conquistou o título com antecipação. A festa junto à torcida foi no Mineirão (veja no vídeo acima), após empate com o América-RN.
2007 – GOL DE COSTAS
“Vi o gol do Vanderlei, e o Fábio lá de costas...” O trecho, que faz parte de uma das músicas mais cantadas pela torcida do Atlético, lembra o lance que não sai da cabeça do torcedor. Ele marca a goleada inesquecível de 4 a 0 em cima do rival Cruzeiro. no primeiro jogo da decisão do Campeonato Mineiro de 2007 (veja no vídeo acima). Depois do título estadual, o técnico Levir Culpi foi para o Japão. Depois dele, outros sete treinaram o Galo, sendo quatro interinos: Tico dos Santos (três jogos), Zetti (11), Marcelo Oliveira (um), Silas (um), Jorge Valença (dois) e Leão (24). De volta à Série A, o Galo fez uma campanha segura, sem risco de novo rebaixamento. Lembrança triste daquele ano foi a eliminação na Copa do Brasil, com um pênalti não marcado em cima de Tchô no fim do jogo com o Botafogo, no Maracanã, pelo árbitro Carlos Eugênio Simon. O time poderia ter avançado às semifinais.
2008 – CENTENÁRIO FRUSTRANTE
Muita expectativa para o ano do centenário atleticano. Mas, logo no Campeonato Mineiro, a primeira decepção: goleada de 5 a 0 para o rival. A principal contratação chegou de helicóptero: o sérvio Petkovic. Entretanto, o armador teve uma participação frustrante, assim como foi a temporada: nenhum título e luta para não cair novamente para a Segunda Divisão. Uma temporada na qual o time teve três treinadores – Geninho, Alexandre Gallo e Marcelo Oliveira – e nada para comemorar.
2009 – PRAZER, TARDELLI
Em 2009 chegou ao clube um dos jogadores que mais tiveram identificação com a camisa atleticana: Diego Tardelli. O atacante já chegou fazendo gol. Logo na estreia, em um clássico contra o rival, no Torneio de Verão, competição realizada no Uruguai. Tardelli acabou sendo o artilheiro do Campeonato Brasileiro daquele ano, com 16 gols, e também o maior goleador da temporada no país. No time comandado por Celso Roth, treinador que tinha sido vice-campeão brasileiro com o Grêmio, em 2008, os jogos no Mineirão levavam sempre um bom público. A sintonia entre time e torcida parecia que levaria o Galo ao título. Animada com a campanha, a diretoria contratou dois reforços de nome, o meia Ricardinho e o colombiano Rentería. O Galo seguia bem no Brasileiro, mas, na 33ª rodada, foi derrotado pelo Flamengo em um jogo chave, em casa, e começou a cair de rendimento (veja no vídeo acima). Depois deste tropeço, perdeu as últimas quatro partidas. Não conseguiu nem vaga na Libertadores do ano seguinte.
2010 – DESPEDIDA DO ÍDOLO
“Sonho de consumo” de boa parte da torcida, o técnico Vanderlei Luxemburgo assumiu o time em 2010. Sob o comando dele, o clube se despediu de um de seus maiores ídolos: o atacante Marques. A torcida fez reverência ao camisa 9, que se emocionou com o carinho durante uma volta olímpica no Mineirão carregando a bandeira do Galo – na final do Campeonato Mineiro vencido sobre o Ipatinga (veja no vídeo acima). O Mineiro não vinha desde 2007. Mas foi só. A esperança de ter um treinador de currículo recheado não correspondeu à expectativa. Na Copa do Brasil, mesmo jogando bem, foi eliminado pelo Santos – campeão daquela edição. Para desespero da torcida, em 2010, o Atlético fez mais uma campanha abaixo do esperado, brigando contra o rebaixamento no Brasileiro. Na despedida do Mineirão, que seria fechado para reformas para a Copa do Mundo, derrota para o Ceará. Luxemburgo já havia caído antes, após ser goleada por 5 a 1 para o Fluminense, no Engenhão, pelo Brasileiro. Dorival Júnior chegou e terminou em 13º lugar na competição.
2011 – PARA ESQUECER
Definitivamente, 2011 foi um ano para o torcedor esquecer. O Campeonato Mineiro ficou com o rival. Para o Brasileiro foram 23 jogadores contratados, de Guilherme e André (duas das maiores contratações do clube na história) a Didira e Toró (que quase não tiveram chance). Campanha ruim que derrubou Dorival. Cuca assumiu e não teve muito tempo. O time seguiu até o fim da temporada lutando contra o rebaixamento – safando-se apenas na penúltima rodada, após vitória sobre o Botafogo, na Arena do Jacaré. Mas o pior estava guardado para o fim. O encerramento do Brasileiro foi com uma goleada por 6 a 1 para o Cruzeiro – jogo em que poderia ter rebaixado o rival, caso a partida terminasse com vitória do Galo ou empate.
2012 – RENASCIMENTO COM R10
O ano de 2012 marcou o início do renascimento atleticano. Mas a temporada começou com a torcida desconfiada. Era a sombra do 6 a 1. No primeiro dia de trabalho, protesto da torcida na porta da Cidade do Galo. Apenas quatro jogadores contratados em janeiro: Escudero, Danilinho, Leandro Donizete e Rafael Marques. A estreia no Campeonato Mineiro foi com vitória em cima do Boa Esporte, mas a torcida presente na Arena do Jacaré preferiu protestar, em vez de comemorar: ficou de costas para o campo. Naquele jogo, a então promessa Bernard marcou o primeiro gol como profissional do Atlético. Durante todo o campeonato, jogadores e comissão técnica falaram de “dívida” com a torcida. O time de Cuca foi campeão mineiro. No dia 4 de junho, uma surpresa que veio para mudar a história do clube: o craque Ronaldinho Gaúcho. Chegou sem alarde, ninguém poderia imaginar que, a partir daquela tarde, um dos maiores jogadores do mundo aria a treinar na Cidade do Galo (relembre no vídeo acima). Vinte e cinco dias depois, outra contratação. Um goleiro que viraria santo no ano seguinte: Victor. Vieram, também, Jô e Júnior César. O time que já era bom se fortaleceu para o Brasileiro e fez um bom campeonato. Mas o título não veio, culpa de um segundo turno ruim como mandante. Decepção também pela eliminação precoce na Copa do Brasil para o Goiás em casa. Mas a temporada terminou em alta com vitória no clássico com o Cruzeiro e conquista de vaga na Libertadores – voltaria a disputar após 13 anos.
2013 – ANO HISTÓRICO
O atleticano se arrepia ao lembrar de 2013. O ano de ouro do Atlético-MG, da conquista mais comemorada da história do clube. Tanto pela importância, como pela maneira como foi conseguida. A temporada começou com a conquista do Mineiro com um gol de Ronaldinho Gaúcho. Jogadores experientes chegaram para encorpar o elenco para a Libertadores: Gilberto Silva e Josué. E, também, Diego Tardelli, a “cereja do bolo”, como definiu o então presidente Alexandre Kalil. Deu certo: Galo, pela primeira vez campeão da Libertadores. Ao som do “Eu acredito”, a equipe comandada por Cuca fez partidas memoráveis, viu defesas inesquecíveis do São Victor, vibrou com jogadas geniais de R10, lotou o Independência e o Mineirão. A torcida pôde, enfim, comemorar um título internacional e de expressão (veja no vídeo acima). Mesmo levando o Campeonato Brasileiro em segundo plano, o Galo terminou a competição em oitavo lugar. Com uma boa campanha no segundo turno, aumentou a confiança para a disputa do Mundial. As lesões de Réver e Ronaldinho, e a venda de Bernard para a Ucrânia, no entanto, complicaram a preparação. O sonho de conquistar o Mundial parou no Raja Casablanca, poucos dias após ter vazado a notícia de que Cuca teria acertado com o futebol chinês.
2014 – EM CIMA DO RIVAL
Paulo Autuori, mesmo com a reprovação da torcida, foi contratado para comandar o time na temporada seguinte. No primeiro desafio, perdeu o título mineiro para o Cruzeiro. Os resultados aquém do esperado (o último sendo a derrota por 1 a 0 ao Nacional de Medellín, na primeira partida das oitavas de final da Libertadores). Após o revés, Autuori saiu, ainda na Colômbia. A diretoria, enfim, decidiu atender a um desejo antigo dos atleticanos e trouxe Levir Culpi de volta, sete anos depois. Deu certo. Muito certo. Com ele, o Galo conquistou a Copa do Brasil em cima do maior rival, na primeira vez em que os mineiros estiveram frente a frente para disputar um título nacional (veja no vídeo acima). Campanha marcada por jogos inesquecíveis, como as eliminações de Corinthians e Flamengo. O mantra “Eu acredito!”, bradavam, a plenos pulmões, os torcedores a cada partida do time. A Recopa veio antes. Depois dela, a saída discreta, assim como foi a chegada, de Ronaldinho Gaúcho. No Brasileiro, terminou em quinto.
2015 – ANO DO QUASE
Para a temporada 2015, o presidente Daniel Nepomuceno apresentou como grande reforço o atacante Lucas Pratto, ex-Vélez Sarsfield, eleito no ano anterior o melhor atacante do futebol argentino. Mas o campeão mineiro de 2015,não foi bem na Libertadores e na Copa do Brasil: eliminado nas oitavas de final da duas competições. No Brasileiro, encheu a torcida de esperança: foi líder por sete rodadas e exaltado por muitos comentaristas. Vários consideravam o time comandado por Levir Culpi o melhor do Brasil. Mas as derrotas e empates nos jogos com equipes que brigavam na parte debaixo da tabela foram cruciais, e o Galo acabou perdendo a liderança na 18ª rodada, para o Corinthians, não voltando mais à ponta. Como consolo, a vaga assegurada na fase de grupos da Libertadores de 2016. O sonho do bi continua, mas agora com um novo técnico, já que Levi deu tchau ao clube na última quinta-feira.