TRANSPORTE METROPOLITANO
Dupla função de motoristas gera transtorno e risco para usuários
No ano ado, 50% dos cobradores foram demitidos, segundo secretaria

Transporte Publico Perigo. Motoristas item que, muitas vezes, para não perderem tempo, dirigem e controlam a entrada de ageiros nos coletivos Transporte Publico Enquanto motoristas cobram as agens, usuários formam filas.
O motorista da linha 2190 (Água Branca/Belo Horizonte) fez uma careta quando um ageiro entregou uma nota de R$ 50. “Não tem menor?”, perguntou, revirando a gaveta, que fica ao lado do volante, atrás de moedas para tentar trocar o dinheiro. Enquanto isso, uma fila de pessoas que tentavam embarcar se formava próximo ao ônibus parado no ponto, no centro da capital. Foram quase cinco minutos para que todos embarcassem no veículo.
A cena se repete várias vezes ao dia nos coletivos do transporte metropolitano de Belo Horizonte. Com a retirada gradual dos cobradores dos ônibus, os motoristas, cada vez mais, têm assumido também as funções de gerenciar a roleta e recolher o dinheiro dos ageiros. Para isso, segundo a categoria, recebem uma bonificação de 20% sobre o salário bruto – um acréscimo de cerca de R$ 350. Para as empresas, o valor é uma economia de R$ 570 por cobrador demitido, já que os agentes de bordo recebiam cerca de R$ 920 por mês.
Os motoristas, porém, garantem que o valor a mais, no fim do mês, é pouco para a dupla função e não compensa o trabalho e os transtornos gerados. “O dinheiro não vale a pena para os riscos que os motoristas têm que assumir”, diz José Márcio Ferreira, diretor de comunicação do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Rodoviário de BH e Região (STTR). Entre os perigos, estão os assaltos e a desatenção no trânsito provocados pelo controle da entrada dos ageiros.
Segundo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), é proibido cobrar a agem com o veículo em movimento, mas é raro encontrar quem siga a lei à risca. “Se eu não receber enquanto dirijo, acabo atrasando demais a viagem”, ite um motorista, que pediu para não ser identificado.
Cortes. No último ano, as demissões de cobradores de ônibus e o consequente acúmulo de função dos motoristas foram intensificadas pelas empresas e sentidas tanto pela categoria quanto pelos ageiros. De acordo com a secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas de Minas Gerais (Setop), em 2015 as empresas de transporte metropolitano cortaram 50% dos cobradores da frota de 2.946 veículos. A Setop, porém, não informou o número total de demissões.
Nas linhas que atendem apenas as cidades da região metropolitana da capital, a situação é ainda mais dramática. No último ano, cerca de 2.000 agentes de bordo foram demitidos em Contagem, conforme o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviários de Contagem e Esmeraldas (Sittracon). “Chegamos ao limite da nossa reação, mas é muito difícil combater as demissões”, contou Antônio Ferreira da Silva, presidente do órgão. Ele diz que sobraram cerca de 200 profissionais, que também devem ser demitidos em breve. Outras cidades da região metropolitana, como Betim e Igarapé, enfrentam problemas parecidos.
Enquanto isso, sobra insatisfação com a medida. “Nós recebemos um abono que é ridículo, não vale a pena o estresse”, diz um motorista do transporte intermunicipal, que também não quis se identificar. Demitido há oito meses, o cobrador Ramon Ferreira, 23, lamenta a perda do emprego e afirma que as empresas usam de estratégias para evitar as mobilizações dos funcionários. “Estão demitindo aos poucos, cada hora é uma turma, mas já foi quase todo mundo”, lamenta.
Empresas não revelam número de demissões
Em nota, o Sindicato das Empresas de Transporte de ageiros Metropolitano (Sintram) disse que evita demitir os cobradores e investe na capacitação para que eles se tornem motoristas, mas não revelou o número de demissões que já foram feitas.
Para o Sintram, o aumento do uso da bilhetagem eletrônica justifica a ausência dos cobradores. “O crescente número de usuários que utilizam o cartão como forma de pagamento possibilita a substituição dos cobradores em determinadas linhas”, diz a nota.
Fonte : O Tempo