Um homem de fé e do seu tempo, cada vez mais preocupado com o sofrimento da humanidade, com as mazelas ambientais e com a situação dos pobres e desvalidos, entre outros grandes desafios mundiais. Líder de 1,2 bilhão de católicos e simpático a pessoas de outras crenças, o papa Francisco completou neste mês  três anos como chefe da Cúria Romana e ocupante do trono de São Pedro, sem perder o foco na comunicação direta com seu rebanho e a modernidade: nesse sábado, data consagrada a São José, o sumo pontífice inaugurou sua conta no Instagram (@franciscus) e, em menos de 24 horas, já reunia mais de 1,2 milhão de seguidores com apenas três publicações. O cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio foi eleito em 13 de março de 2013 para substituir Bento XVI, que renunciou. Tomou posse em 7 de abril, surpreendendo pela simplicidade, despojamento e promessas de mudança na Igreja.

A luz do carismático Francisco se mantém forte como a de um farol e orienta os caminhos dos católicos. “Ele trouxe avanços, inovações, não vira as costas para ninguém”, diz o empresário Jardel Lages, que, na noite de quarta-feira, rezava com a família na Catedral da Boa Viagem, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. No altar, uma foto de Francisco com seu sorriso inconfundível, enquanto os presentes prestavam homenagens pelo aniversário do pontificado. A mulher Helena e os filhos Cayo, de 19, e Athos, de 15, elogiavam a atitude contemporânea do papa diante dos problemas sociais e na busca de entendimento com as outras religiões. “Ele estende a mão”, destacou Jardel.

Pouco antes da missa das 19h, a advogada aposentada Maria Zuleica Ribeiro de Melo ressaltava os méritos do pontífice. “Cativa os fiéis pelo jeito simples de falar e pela voz profética e respeitável”, disse, certa de que Francisco é “um pastor e também grande estadista, por buscar a conciliação entre os países, pela paz, e levar a fraternidade a lugares de conflito e turbulência”. A freira Luzia, da Congregação das Irmãs Sacramentistas de Bérgamo, vê Francisco como um homem sem medo, “que anuncia e denuncia, convida os religiosos a serem alegres e felizes para realizar um bom trabalho”.

O pontificado de Francisco consolida novo rumo para a vida da Igreja, avalia o arcebispo metropolitano de BH, dom Walmor Oliveira de Azevedo, para quem o papa procura estar mais próximo de todos, “de modo especial dos mais pobres, dos sofredores e das crianças, com palavras simples, diretas e densas”. “Ele ensina o caminho do diálogo, do encontro”, afirma dom Walmor.

PARA O MUNDO

Com a experiência de quem trabalhou oito anos (2007 a 2014) na Rádio Vaticano, em Roma, o reitor do Santuário Nacional de São José de Anchieta (ES), padre César Augusto dos Santos, faz coro às opiniões. “O papa Francisco abriu a Igreja para o mundo, por meio do diálogo. Logo na eleição, mostrou a que veio, pedindo aos católicos que rezassem por ele, num gesto de humildade”, afirma o reitor. O apelo foi repetido ontem, na primeira postagem no Instagram.

Padre César destaca pontos importantes nesses três anos de pontificado, como a reaproximação entre Cuba e Estados Unidos; o encontro histórico, em Havana, com o patriarca Kirill, da Igreja Russa Ortodoxa, reatando laços desfeitos havia mais de mil anos; a conclamação aos líderes europeus para acolher os refugiados que chegam pelo Mediterrâneo; a luta contra a nódoa da pedofilia e outras questões, como a reformulação da Cúria Romana. “O papa pratica o que prega, toca na ferida com carinho”, diz .

Autor do livro Como se faz um bispo, o jornalista mineiro e estudioso J. D. Vital também ressalta a presença decisiva do papa para tentar resolver questões de política internacional e humanitárias. “Muitas vezes, ele parece uma voz clamando no deserto, mas não perde o ânimo nem a simpatia.” Vital cita a visita do papa à Ilha de Lampedusa, na Itália, em julho de 2013, para mostrar solidariedade a dezenas de milhares de migrantes que cruzam o Mediterrâneo em busca de um porto seguro. “Ele abriu o coração da Igreja, prega a misericórdia”, diz o jornalista, que vai lançar em breve o livro A revoada dos anjos de Minas, sobre o fechamento do Seminário Maior de Mariana em 1966.

FAMÍLIAS

Nestes três anos, o papa tocou em pontos nevrálgicos da Igreja, “trazendo inovações e surpresas”, afirma o especialista em direito canônico e frei carmelita Evaldo Xavier Gomes, que trabalhou 10 anos na Itália. Além de dar novos ares à Cúria Romana, até então intocável, Francisco acolheu os divorciados, emitindo um Motu Proprio, expressão em latim para documento escrito “de próprio punho”. Com isso, promoveu mudanças nos cânones sobre a proclamação de nulidade do casamento, simplificando o processo, que antes poderia demorar anos e não saía barato. Também de forma surpreendente, o líder espiritual acenou com o perdão, durante o Ano da Misericórdia, que começou em 8 de dezembro, para quem praticou aborto, desde que se arrependa do ato durante a confissão.

“Ele é também um pontífice no sentido de fazer pontes, unir”, diz frei Evaldo, citando, além da Igreja Ortodoxa Russa e a questão Estados Unidos e Cuba, na qual teve participação decisiva, a aproximação com os luteranos, na Alemanha, por ocasião dos 500 anos da reforma protestante.

CRONOLOGIA

2013 – Em 11 de fevereiro, Bento XVI apresenta a sua renúncia – a primeira de um papa em seis séculos

2013 – Em 13 de março, o conclave elege o argentino Jorge Mario Bergoglio, jesuíta, que escolhe o nome de Francisco e se torna o primeiro pontífice latino-americano

2013 – Em 7 de abril, o papa Francisco toma posse em cerimônia na Basílica de São João de Latrão, Catedral de Roma

2013 – No período de 23 a 28 de junho, Francisco participa, no Rio de Janeiro (RJ), da Jornada Mundial da Juventude, na sua primeira viagem internacional como pontífice

2013 – Conselho dos cardeais, formado por oito clérigos, começa a reunião do comitê para imprimir nova face à Igreja Católica e ajudar o pontífice na reforma da Cúria Romana

2014 – Em 28 de janeiro, o papa nomeia o brasileiro dom Ilson de Jesus Montanari secretário da Congregação dos Bispos

2015 – Em 18 de junho, o papa apresenta a primeira encíclica dedicada ao meio ambiente (Laudato Si) – Sobre o cuidado da casa comum, exigindo uma ação rápida para salvar o planeta da destruição

2016 – Em 12 de janeiro, Francisco lança seu primeiro livro, O nome de Deus é misericórdia

MARCAS HISTÓRICAS

1) Visita a Itália, em julho de 2013, em solidariedade à legião de migrantes que buscam um porto seguro na Europa

2) Simplifica a proclamação de nulidade do casamento

3) Visita Havana, em setembro do ano ado, depois de Cuba e EUA retomarem relações diplomáticas, em processo impulsionado pelo pontífice

4) Denuncia os que acobertaram a pedofilia na Igreja

5) Em fevereiro deste ano,  encontro  com o patriarca da Igreja Russa Ortodoxa Kirill, reatando laços desfeitos havia mais de mil anos