Justiça determinou reintegração de posse de área de 3.500 m² onde fica o templo no Serra Verde
Boa parte do material que seria usado na construção do muro que cercaria a Igreja Nossa Senhora Aparecida, no bairro Serra Verde, em Esmeraldas, na região metropolitana de Belo Horizonte, já tinha sido doado pela comunidade. Mas, no último dia 7, os moradores receberam uma notícia da Justiça que transformou a expectativa de uma reforma em preocupação. A igreja, construída em 1994, seria demolida, e o terreno de 3.500m², destinado a um loteamento, teria que ser desocupado em até 30 dias após a notificação.
A decisão da juíza Cirlaine Maria Guimarães determina a reintegração de posse da área à imobiliária Territorial Investimentos Ltda., de Contagem, que garante ser a dona do terreno desde 1990. Do outro lado, a igreja apresenta documentos garantindo que teria recebido a área como doação de um antigo fazendeiro da região.
A Arquidiocese de Minas Gerais entrou com um recurso e aguarda a decisão da Justiça, que não tem previsão de acontecer. A página no Facebook Diga Não à Demolição já havia recebido até ontem quase 900 curtidas. Para tentar evitar que essa situação aconteça, os moradores promoveram um abraço simbólico à igreja e pretendem promover uma série de ações nos próximos dias.
“Meu sentimento é de sofrimento por ver uma comunidade que luta há 25 anos para construir e conservar sua igreja estar perto de ver tudo no chão”, explica o padre Joaquim Fonseca, responsável pelo local. Segundo ele, além das atividades religiosas, a Igreja de Nossa Senhora Aparecida oferece vários cursos e oficinas gratuitos à comunidade que atendem entre 300 e 500 pessoas. “Estamos nos mobilizando e temos esperança de que vamos conseguir reverter essa situação”, diz o português que veio para o Brasil há 25 anos para trabalhar com evangelização.
Do outro lado, o empresário Clóvis Nogueira Amaral, 88, dono da imobiliária garante ser o proprietário do local. “À época, eu cheguei a notificar a igreja várias vezes, afirmando e mostrando documentação de que o terreno era meu e que a área doada seria outra, mas eles nunca me ouviram. Se eles tivessem reconhecido isso naquela época, eu mesmo teria aceitado negociar com eles na ocasião”, garante.
História. A questão preocupa os moradores, que se orgulham de ter construído a igreja praticamente sozinhos. Uma das mais apreensivas é a dona de casa Maria Rodrigues, 84. “Meu marido doou muita coisa e ajudou com os próprios braços a erguer essa igreja. Dói muito só de pensar numa coisa dessas”, diz.
Bastante emocionada, Maria relembra que há poucos anos chegou ao altar toda vestida de noiva para celebrar 50 anos de casamento. “Esse era meu sonho. Quando eu me casei não tive dinheiro para me vestir de noiva. Foi aqui que eu realizei esse sonho, e agora querem acabar com parte de minha história”, lamenta com os olhos marejados de lágrimas.
Há 25 anos no bairro, a serviços gerais Ilma Quirino, 50, é outra que acompanhou de perto cada o da construção da igreja. “Antes, aqui só tinha aquele cruzeiro. Aí fomos lutando, buscando uma ajuda aqui, outra ali, e hoje virou isso tudo que agora querem nos tirar. É revoltante”, diz.
O terreno da igreja se transformou praticamente em um centro comunitário do Serra Verde. O local tem um jardim bem cuidado pelos moradores, espaço para festas, recepções e oficinas, além de uma sala para catequese, que evangeliza atualmente cerca de 40 crianças.
Jovens do bairro afirmam não entenderem decisão judicial
A mobilização em prol da permanência da Igreja de Nossa Senhora Aparecida recebe o apoio não apenas dos moradores mais antigos do bairro Serra Verde. Coordenador do grupo de jovens, o estudante de Educação Física Lucas Sanches, 21, lamenta a decisão, alegando que ela pode prejudicar o trabalho social na comunidade.
“Aqui, conseguimos tirar muita gente que poderia seguir outro caminho. Isso é muito triste. A gente fica sem entender”, afirma. O colega Michael Douglas, 23, endossa as palavras de Lucas. “Temos hoje tanta violência no mundo. Aqui é um lugar de pregar a paz. Estamos todos muito chateados com isso”, completa.
EMOÇÃO
‘É um sentimento de impotência’, diz moradora
O corretor Vanderlúcio Souza Pacheco, 41, é outro que se emociona ao falar da igreja. Com a ajuda de vários moradores, ele vem tentando mobilizar um número cada dia maior de pessoas para lutar pelo espaço que conquistaram.
“Tenho vários amigos que se casaram aqui e tantos filhos de outros que foram batizados nesse local. Imagina um desses filhos um dia perguntar para o pai aonde foi batizado, e o pai não ter o local para mostrar”, indaga com os olhos lacrimejando.
Moradora do bairro há 12 anos e frequentadora assídua da igreja, a dona de casa Lenir da Consolação Souza, 50, tenta ter serenidade apesar do momento de apreensão. “Estamos nos mobilizando e mostrando a importância de ter a igreja aqui, no bairro. Não podemos ter a cabeça quente, porque não vai adiantar nada. Esperamos que a justiça seja feita. Mas é um sentimento de impotência e de decepção muito grande. Estamos todos muito tristes”, pondera a moradora.
FONTE: O TEMPO – Glaucio Castro
Celebração da Palavra
Dia 12/02/2017
Após a Celebração foi feita uma reunião para esclarecer a situação.
FONTE: https://www.facebook.com/DigaNaoADemolicao/?hc_ref=PAGES_TIMELINE